aman 62

Sylvio Varoni de Castro

 

 

A concretude da Ponte

Hiram Câmara

Em 1973, Varoni na EsAO, era um dos quase cem capitães-alunos que, depois do rancho do almoço, tentavam manter a dignidade de, pelo menos, um olho aberto, com  pose de quem ali estava acordado, na hora boa para uma “tora”.
No “tablado”, o instrutor empregava todos os meios possíveis para manter a dignidade do cargo, discorrendo sobre os detalhes do “tema tático”, usando o artifício de manter-se, o maior tempo possível, voltado para a ampla carta topográfica fixada à frente da turma, desenvolvendo, com grande desenvoltura, a “situação”::... “o curso d´água  que corta toda a zona de ação é obstáculo para blindados e não “dá vau”em toda a frente. Portanto, o comandante, em sua solidão, deverá decidir realizar a transposição antes ou depois do início do crepúsculo vespertino náutico.”. Ao se voltar para a turma, lança uma pergunta, que ressoou como um toque da alvorada. “ Pergunto, então, até aqui, de concreto, para a solução do problema,  o que você destaca”... e escolheu seu alvo:...” Varoni?”.
A resposta, aberto o outro olho , veio pronta: “ De concreto, mesmo, major,só a ponte...” Ninguém conseguiu prender o riso. Nem o instrutor.

Esta estória ganhou o mundo. Já a ouvi, até em programa humorístico na TV, com inúmeros heróis e como se realizada em diversos ambientes.
A resposta pronta era uma marca da inteligência e do bom humor de Varoni. Algumas vezes nos encontramos depois disto, em grupos de amigos, no Rio ou em Fortaleza, e a estória da concretude da ponte sempre voltava, lembrada por alguém.
Quando soube que Varoni fora transferido para a dimensão mais elevada, do QG do Grande Chefe, mais uma vez a estória voltou à lembrança. E se estivéssemos sentados na sala de aula da Vida, a pergunta desta vez seria lançada à turma pelo próprio Varoni, em razão de tudo o que todos nós vivemos em sua companhia: “Pergunto, então, até aqui, de concreto, o que você destaca?”.

E se, desta vez, o alvo fosse eu, ou qualquer outro que o tenha conhecido e, dele, privado as atenções, o carinho e o bom humor de seu espírito gentil, estou certo de que poderíamos tomar emprestada a presteza de Varoni, para responder: “De concreto, mesmo, a nossa amizade”.

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Querido e saudoso amigo Sylvio Varoni de Castro,


Hoje, nossa turma da Serra de Guaramiranga reuniu-se para comemorar mais um aniversário do Pádua.Lembra-se?É aquele cara que nunca concordava contigo e sempre discutia acirradamente.Quem não fosse conhecido pensava serem inimigos ferrenhos.Pois muito bem.Ao iniciarem-se os "trabalhos", o aniversariante colocou sua foto, elegante, de paletó e gravata, no centro da mesa, em meio aos copos de Wisky.Sentí que entre conversas, piadas e goles todos tinham um olhar para você.O Pádua, surpreendentemente calado, porque não tinha com quem brigar.O sentimento era unânime! Cara, porque você nos deixou?
Isso foi um mau exemplo para os amigos.Porque você não está aqui participando desta farra e bebendo conosco?Os netos do aniversariante perguntam:Cadê o tio Varoni?
Ao mudarmos de lugar para orações, a primeira iniciativa foi levar tua foto para os pés da santa.
Lembra-se daquela queda em Guaramiranga, quando ficastes ensanguentado?O Pádua a bancar o enfermeiro e, eu, frouxo, a chorar.Depois, quando te levei para dormir e você disse:calma cara, quero fazer xixi! Aos 67 anos, foi a primeira vez que peguei num bilau adulto para ajudá-lo.
Não fique pensando que esta carta é uma indiscrição, mas, simplesmente, uma tentativa de mostrar o significado de uma verdadeira amizade.Até o próximo encontro.

Castelo Branco Cad 1084

Fortaleza, CE - 07Mar09.

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SYLVIO VARONI DE CASTRO

Lembro-me dele pela inteligência clara, pela cultura geral, pela flexibilidade de raciocínio rápido, pelo humor refinado,pela bondade infinita, pelo carinho com os pequenos e marginalizados, pela tolerância com os amigos; era um filósofo, era solidário, era um boêmio, era um irmão, era um amigo. Só tinha pecados veniais.

É assim que vou me lembrar dele mas, para que possa influir um pouco na forma de o sentirmos no nosso futuro, vou contar uma historinha linda, em torno de sua viagem para o oriente eterno.

Quando dei a notícia à minha filha Vivi, por telefone, ela que o conhece desde criança, caiu em pranto incontrolável, com o marido buscando acalmá-la, e com os filhos ao redor, assustados, sem saberem o motivo do pranto.

Nesta hora, o GABRIEL, de três anos, disse pra ela : - Mãe, não chora que eu vou buscar o gelo!

-O gelo sararia toda aquela dor, na pureza e inocência da criança!

Pois bem, usemos essa imagem do gelo para aliviar nossa dor, da perda deste amigo, que tinha espírito de criança.

Usemos também esse gelo, puro ou não, para evocarmos sua memória, como saudávamos sua vida, e a nossa, em nossos memoráveis encontros, por este mundo afora.

E tudo isto se justifica com o fato de que o GABRIEL, dirigindo-se depois à avó, disse: -Vovó, você sabia que o vovô Varoni virou uma estrelinha ?

Portanto, com gelo na mão, puro ou não, olhemos para o céu e evoquemos sua memória, sem pranto mas com gratidão, pelo privilégio da convivência fraternal com essa criança grande .

FORTALEZA,03 DE OUTUBRO DE 2008

ANTÔNIO DE PÁDUA CUNHA PIRES

PS – Lido na missa de 7º dia, na Capela do Hospital Militar


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O Dantas escreveu:

- Conheci o Varoni em 1969 (SIC) no curso de Guerra Química da EsIE. Eu, ele e o Praciano conversávamos e brincávamos muito nos intervalos das aulas. Fizemos um estágio em São Paulo e ele, como paulista, nos ciceroneou naquela pujante metrópole. Depois perdi o contato e só fui reencontrá-lo no Jurerê Internacional ( Encontro Tuducax em 2006, Floripa). Era um excelente companheiro: alegre, sempre de bem com a vida e de muito bom humor... Que ele descanse em Paz.

Dantas (228-EPF)”.
 

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Foto do Casal Varoni -Márcia, com o Aramir
 

Varoni com um grupo de amigos no Aniv. Camurça 2008

Carta ao Nosso Amigo Varoni

Querido e saudoso amigo Sylvio Varoni de Castro,

Hoje, nossa turma da Serra de Guaramiranga reuniu-se para comemorar mais um aniversário do Pádua.Lembra-se?É aquele cara que nunca concordava contigo e sempre discutia acirradamente.Quem não fosse conhecido pensava serem inimigos ferrenhos.Pois muito bem.Ao iniciarem-se os "trabalhos", o aniversariante colocou sua foto, elegante, de paletó e gravata, no centro da mesa, em meio aos copos de Wisky.Sentí que entre conversas, piadas e goles todos tinham um olhar para você.O Pádua, surpreendentemente calado, porque não tinha com quem brigar.O sentimento era unânime! Cara, porque você nos deixou?
Isso foi um mau exemplo para os amigos.Porque você não está aqui participando desta farra e bebendo conosco?Os netos do aniversariante perguntam:Cadê o tio Varoni?
Ao mudarmos de lugar para orações, a primeira iniciativa foi levar tua foto para os pés da santa.
Lembra-se daquela queda em Guaramiranga, quando ficastes ensanguentado?O Pádua a bancar o enfermeiro e, eu, frouxo, a chorar.Depois, quando te levei para dormir e você disse:calma cara, quero fazer xixi!Aos 67 anos, foi a primeira vez que peguei num bilau adulto para ajudá-lo.
Não fique pensando que esta carta é uma indiscrição, mas, simplesmente, uma tentativa de mostrar o significado de uma verdadeira amizade.Até o próximo encontro.

Castelo Branco Cad 1084