Conservatória e as
sutilezas do dedilhar das cordas da alma
ou
“Programa para Tuducax nenhum botar defeito”
texto: Hiram Câmara
Fotos e edição nas fotos: Carlos Xavier Filho
Se
alguém quisesse começar as lembranças daquele fim de semana
de forma óbvia, certamente haveria de dizer que, desde
então, nossos corações compreenderam o nome de Conservatória
que a cidade musical recebeu.
Mas segundo a história de lá, antes mesmo de chegar o
primeiro violão, e os acordes eram os do apito do trem em
“piuiiii maior” e o mugido da vaca em “muuu bemol”, a vila
já ostentava o nome magistral de Conservatória. Então,
fiquemos fora desta questão, e tomemos a idéia de um dos
músicos que disse sempre pensar na cidade como uma pauta e
que as ruas - as três: a que sobe, a que desce e a que liga
uma à outra - são as linhas e os espaços e as pessoas são as
notas. A cidade, para ele era a síntese da Música. E a
Música, a síntese da Vida.
Creio que para nós, Conservatória foi, por três para quatro
dias, uma sinfonia de vida.
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Não é nem
próprio ficar levantando, ponto a ponto, porque o Rocha teve
razão: foram tantas e em compasso tão ativo, que seria como se,
após ouvirmos o Brasileirinho, ficássemos depois a elogiar, nota
por nota, compasso por compasso. Também não seria próprio,
talvez, destacarmos qual o músico ou cantante fez o melhor som.
Ou qual a melhor comida. Ou qual a melhor música presa à porta,
idéia genial da Pousada , em sua sofisticação simples e de bom
gosto.
Mas por falar nesta idéia, contam que uma loura (ah, essa
maldade com as louras!) quis saber qual era essa tal de “música
da porta de seu quarto”, pois não conseguira, ainda, saber o
nome da que seria a do quarto dela. E, por outro lado, todas as
outras amigas já sabiam. Uma alma bondosa, também loura,
ensinou-lhe que bastava ler no quadrinho pendurado à porta, pelo
lado de fora. Horas depois, ela foi reclamar com o fantástico
dono da pousada, Ele a acompanhou até à porta. E ela explicou. O
senhor vê se tem jeito uma coisa dessas: está aqui escrito:
Música do Apartamento 204: "Atrás da Porta". "Agora veja bem o
senhor, por favor. Há duas horas eu procuro. Vê se atrás da
porta há alguma música."! Maldade pura.
Mas o melhor veio depois, quando ela contou para a vizinha,
também loura, o que acontecera. E, então a segunda loura
explicou tudo para a primeira, que enfim entendeu. E então,
comentou, cúmplice: você é loura que nem eu. E eles ainda dizem
que nós somos burras! E a outra respondeu. "Loura, um... eu
pinto o cabelo!" Mas maldade. Mas voltando: se não é próprio
apreciar a música nota a nota, é possível em nosso caso, pensar
em quem nos proporcionou esse programaço!
Romeu escreveu uma mensagem, como também o fez o Lemgruber sobre
o fantástico fim de semana. Assim como as anotações do Rochinha.
É um contraponto musical completo: a do Romeu fala das
apreensões dele e de Rita, temerosos do resultado. Coisas assim
como: se gostaríamos da pousada, da comida, da cidade, dos
programas. O Golias, aquele comediante de nossa infância e da
adolescência do Velho Rocha, diria para o Romeu: - "CÁSPITE!!!”
As preocupações se diluíram como a bruma que cai no inverno de
Conservatória e some perto do meio dia, hora de cantor levantar.
À medida que nasciam, sinceras, verdadeiras, as manifestações de
plena satisfação de cada um, Romeu ia se desanuviando no
espírito. Quando percebeu que todos estavam encantados com cada
um dos músicos e intérpretes que se apresentavam, Romeu começou
a aproveitar o momento conosco.
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O casal
foi perfeito. Anfitriões excelentes que tudo planejaram,
organizaram, prepararam, acompanharam e constataram o êxito de
sua hospitalidade e do carinho do casal, ao receberem em seu "bunker"
musical. Todos os que expressaram a mesma frase têm razão: foi o
melhor Encontro.
E que teve um ponto culminante, entre tantos magnos. Foi
inesquecível. Imaginemos Las Vegas. Pensemos, então, no Sands,
onde um cartaz anuncia: "Tonite” (escrito assim mesmo): "The old
blue eys”. O público ansioso. Entra o cantor ao palco,
ovacionado. Silêncio no enorme auditório. A orquestra entra. E a
Voz entra, com seu estilo pessoal, um pouco anasalado ao fim da
frase melódica e enquanto avança nas
notas, já há gente chorando enquanto a Voz quase solta, em seu
estilo, ensina ao público respeitoso, como viver ao seu jeito -
"My Way", e num repente, o público se dá conta de que está em
uma pousada e não em Las Vegas, e que quem canta não é Frank
Sinatra, mas o nosso estimadíssimo mestre Marçal, acompanhado
por um emocionado e originalíssimo bandolim! A nota final fecha
a música e o enorme-pequeno público daquela pousada - Las Vegas
está de pé, em um aplauso caloroso, que como tudo o que ocorre
em Conservatória, brota da alma e do coração. Frank Marçal tirou
a turma do sério! Havia lágrimas furtivas pelos cantos de alguns
olhos. E passou pela cabeça de muitos: Foi a melhor
interpretação de nosso mestre da AMAN,
superou-se, foi acima do que podia, compreendeu o momento da
homenagem que um grande profissional do bandolim lhe fazia.
Foi inesquecível. E graças a Deus, essas emoções fortes
aconteciam, dosadas por programas “light”, que embromavam as
arritmias possíveis. Porque o Centímetro, uma grande sacada, com
a redução do Metro Tijuca, fazia lembrar romances de início de
"carreira", alguns vividos com as mesmas "namoradas" de hoje. Ou
a ida à Fazenda, que encerrou o passeio, muito
aconselhado por nós para qualquer pessoa. Foi tudo espetacular.
E para coroar, lá estava o avô do Pádua. E “taí”na foto para não
deixar mentir. Romeu, Rita, Marçal, avô do Pádua, foram os
magnos. Além dos músicos. Foi um grande passeio.
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Fica a idéia de retornar no próximo ano. E, aí,
sai de baixo! O Mota Mendes vai ensinar como se toca violão!"