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FELIZ NATAL EM PLENA GUERRA DE 1914


“Os dias 24 e 25 de dezembro, viram o extraordinário espetáculo de uma trégua não oficial entre nossas tropas e os Saxões que estavam à nossa frente. Tudo tinha sido normal até o “descansar” da noite (*) e o comandante da companhia estava jantando no abrigo do quartel-general, quando o Sargento-mor da companhia colocou sua cabeça para dentro e disse ‘O que devo fazer, senhor? Os alemães estão sentados nos seus parapeitos, acendendo velas e cantando hinos de natal!’ O comandante da companhia saiu imediatamente, e, subindo na banqueta, viu pequenas luzes em toda a extensão das trincheiras alemãs, e ouviu muitas vozes elevando-se em canções.

Decidiu consultar o oficial comandante da companhia ‘A’, que era o oficial mais antigo na linha de frente, e prosseguindo, começou a caminhar pelas trincheiras em direção ao comando da companhia ‘A’. No caminho, ele descobriu um dos seus homens no ato de sair da trincheira e viu que havia um soldado alemão na ‘terra de ninguém’, que desejava falar com um soldado britânico; então, ordenando a seu homem que voltasse, ele próprio subiu para investigar. O alemão veio a ser um praça de pré que tinha sido um garçom em Brighton, e estava ansioso para trocar charutos por corned beef. O comandante da companhia pediu para ser levado até um oficial, e foi conduzido até a linha de frente alemã, onde ele achou um grupo de oficiais de pé, ao lado da parede de uma fazenda arruinada. Saudações natalinas foram trocadas e finalmente foi feita uma sugestão de que o Natal fosse observado como um dia de descanso e que a infantaria não deveria atirar uma na outra, apesar de que, naturalmente, nenhum dos dois lados podia responder por suas respectivas artilharias.

O SOLDADO INGLÊS E O ALEMÃO NA TRÉGUA DE NATAL
DA GUERRA DE 1914.

Foi acordado então que todo o fogo de infantaria deveria cessar imediatamente e que uma trégua informal deveria continuar até a meia noite do dia de Natal. O porta voz alemão então pediu permissão para enterrar os mortos, os corpos congelados dos quais estavam espalhados na ‘terra de ninguém’. Grupos de enterramento foram enviados de ambos os lados, deixando as suas trincheiras as 10 da manhã do dia do Natal, cada lado devendo enterrar os mortos na sua metade da ‘terra de ninguém’. O resto da noite passou em paz absoluta, e as 10 da manhã do dia de Natal, grupos de homens, armados somente com picaretas e paz, saíram de ambos os lados. Então, minutos depois, o inevitável cadáver foi achado ao longo da linha de meio caminho e rapidamente os grupos de enterramento estavam misturados em uma desordem fraternal.

Alguns oficiais de Ulanos, que tinham sido transferidos para a Infantaria, saíram e posaram para suas fotografias no centro de um grupo de soldados alemães e britânicos. Eles estavam magnificamente polidos e limpos, o que, infelizmente, os oficiais britânicos não estavam. Durante todo esse tempo, um número suficiente de homens foi mantido em alerta nas nossas trincheiras para impedir qualquer tentativa de traição e para impedir que qualquer inimigo entrasse nossas trincheiras. Os alemães evidentemente tomaram as mesmas precauções, pois quando o capitão Ewald tentou dar uma olhada na trincheira avançada deles, ele foi prontamente advertido por uma sentinela invisível.
Tão-logo a trégua começou, os Saxões avisaram nossos homens para alertar os batalhões à direita deles para ficar em suas trincheiras, pois eles estavam na frente de prussianos, descritos como ‘Bosen Kerle’ (Rufiões mal humorados). Ao anoitecer, os homens de ambos os lados retornaram as suas trincheiras, mas nenhum ato hostil se seguiu ao término da trégua, às 11 da noite. Pouco depois do ‘descansar’ na manhã seguinte, o comandante da companhia ‘C’ foi informado que um oficial alemão desejava falar com ele na ‘terra de ninguém’. Ao sair, ele encontrou um imaculado e muito educado indivíduo esperando-o, que, depois de uma troca de cumprimentos, informou-o que o seu coronel tinha dado ordens para o reinicio das hostilidades ao meio dia e poderia os homens ser alertados para manter-se abaixados, por favor? O comandante da companhia ‘C’ agradeceu ao oficial alemão por sua cortesia, ao que, batendo continência e curvando-se pela cintura, ele respondeu: ‘somos saxões; vocês são anglo-saxões; a palavra de um cavalheiro é para nós como é para vocês.’
As tropas foram devidamente alertadas para manterem-se abaixadas, mas então, logo antes que as hostilidades deviam recomeçar, uma lata foi jogada nas linhas da companhia ‘A’, com um pedaço de papel dentro, trazendo escrito: ‘Nos atiramos para o ar’ e claro como a água, na hora marcada, uns poucos tiros vagos foram disparados sobre nossas trincheiras. Então tudo ficou quieto de novo e a trégua não oficial continuou.”

(*) nas trincheiras, todas as tropas eram chamadas para os parapeitos (stand up) uma hora antes do nascer do sol e uma hora de depois do por do sol, pois eram as horas em que um ataque era mais provável. Liberadas (stand down - descansar), eles podiam continuar com seus afazeres, com a exceção do pessoal de alerta.


Tradução do Inglês para o Português da obra, Christmas in the Trenches:
Gilberto Araújo


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