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MEUS SESSENTA E OITO
ANOS |
A primavera
sempre me
acompanha. É uma regra imutável na vida,
pois tendo acontecido ao nascer,
assim será por
toda a vida. Esta idade
não é uma década
redonda, 60, 70 etc. Mas, está a um passo de se poder dizer, sete décadas vos
contemplam! Já ultrapassei em seis
anos a idade
de morte de meu
pai que
viajou para a eternidade
aos cinqüenta e nove anos. Sua morte se deu em 23 de
outubro de 1965, portanto
há 41 anos. PERSPECTIVA DE VIDA Talvez
se deva aos recursos
da medicina que
hoje contamos: antibióticos
em geral,
drogas que
baixam a pressão arterial, previnem o enfarto, ativam a circulação
sangüínea. E os procedimentos notáveis
em micro-cirurgias (reimplante de mãos, dedos, braços, pés), passando pelos transplantes
de órgãos inteiros,
implantes de artérias
e veias ao sistema
falido coronariano, recuperação de rins e fígado. A medicina evoluiu bastante. Só
o fato que
a Humanidade despertou para
a atividade física
de andar, correr, nadar, voar em
equipamentos especiais,
além de reconhecer
o valor dos alimentos
e da fitoterapia, aí
incluindo a aromoterapia, a gemoterapia e a herboristeria, é que o Homem está vivendo mais. Na realidade,
desde pequeno
que eu
circulo pelo mundo.
Muitos períodos
de férias, principalmente
em dezembro, foram passados numa fazenda
de tios, em
Redenção, na companhia
dos primos e primas
lá residentes, com
outra leva
que lá
chegava no mês de janeiro.
Natais, reisados,
fogueiras, brincadeiras
de roda, dramas,
histórias de assombração.
Príncipes, rainhas,
fadas e feiticeiras enchiam o meu imaginário. E ainda pequeno, houve outro sítio
na zona suburbana
de Fortaleza, na Cachoeirinha, cercado de cajueiros
e mangueiras, vendo o meu avô materno José Camurça
fazendo cajuína artesanal, e minha tia
Lélia fazendo doces de caju em calda, sucos e mocororó de murici. Havia fartura naquela época dos anos 40. Podia não
haver variedade,
pois o hábito
alimentar era
limitado aos produtos da terra:
rapadura, milho,
farinha de milho
para cuscuz, farinha de mandioca,
pão somente de 200 gramas, broas e
roscas, legumes
mais tradicionais, as frutas eram laranja
e banana, a jaca
uma vez na vida.
Peixe lá
em casa
só se comia quando
meu irmão
mais velho
me levava na garupa
de sua motocicleta
e íamos comprar peixe
no Mucuripe, à tarde. Também uma vez
na vida... O jantar
era sopa
de feijão passada
na peneira de palha,
com muito
coentro e cebolinha
nadando, nadando... Merenda às três
horas da tarde,
quando saía uma fornada
na Padaria, e a ida
ao local era
uma alegria só. No Recife,
quando lá
estudei no estremecido ano político de 1954, aprendi a comer
língua de boi, fatiada, com molho,
que era
carne tenra,
mas a princípio
repugnada por que
a imaginação da baba
do boi ou
da vaca embrulhava-me o estômago. Fui vencido pela
fome... Apartando-me dos assuntos de alimentação,
hábito alimentar, e farnel de uma década,
nos colégios
que eu
estudei para fazer o Exame de Admissão, um terrível vestibular para crianças de 12 a 14 anos, - fiz excelentes amizades
que perduram para
sempre. Tanto
é que escrevi aos sessenta anos, uma obra
memorialística O Aluno
Itinerante (obra
esgotada). E foi exatamente
após os sessenta que
me descobri escritor
memorialista, pois
me dei bem ao
estilo que
o tema exige: narrar
o passado, uma espécie
de autobiografia sem
sê-lo, mas e muito
mais um
registro histórico
de uma época. EXÉRCITO Na minha
vida profissional, fui Aspirante em
Manaus, no extinto 27º Batalhão de Caçadores, chegando em
18 de fevereiro de 1963 e sendo transferido para a Guarnição
de Fortaleza, a 25 de julho de 1965. Fui classificado
no Estabelecimento Regional
de Subsistência, órgão
de Intendência onde
sai capitão, em
25 de agosto de 1970. Na realidade, permaneci até julho
de 1971, tendo sido transferido para o 4º Batalhão de Polícia
do Exército, em
Olinda – PE. Foi um longo
convívio com
a natureza do heróico
povo pernambucano. Fui cursar a EsAO – Escola
de Aperfeiçoamento de Oficiais durante o ano
de 1975. Por merecimento
intelectual, sou classificado
ao final do curso
na 10ª Brigada de Infantaria
Motorizada, no Recife, um QG intermediário
entre o Comando
da 7ª RM e a tropa. Ao ser
promovido a Major, em
30 de dezembro de 1979, volto para o Ceará, já para o Depósito Regional de Subsistência, a mesma unidade
com nova
denominação. Ainda
servi na Comissão Regional
de Obras da 10ª RM, e já Tenente coronel, fui encerrar a minha carreira em São Paulo, na 2ª Inspetoria Seccional de Finanças da 2ª RM. Passei para a Reserva
sob os aplausos
da família que
não queria saber
de garoa, frio
e engarrafamentos. Sou, portanto, um oficial de poucas transferências,
mas com
bastante Consciência
Nacional pelas viagens
funcionais e pessoais
pelo Brasil afora. ESCOLA
PREPARATÓRIA DE FORTALEZA Em
1996, com a minha
Turma TC Porto Barbosa, eu me enfronhei
nos eventos
de grandes encontros.
Com a ajuda
de Internet, fomos localizando quem estava onde, e a descoberta despertou grandes amizades
que estavam embutidas no ego de cada colega. Como
disse, as amizades
escolares são
para sempre. Os REENCONTROS aconteceram em Fortaleza – 1996; Maceió, em
1997; em Aracaju, 1998; em Fortaleza, 1999; no Recife e Olinda, em 2000; no Rio de Janeiro, em
12001. Neste ano de 2006, em março, completamos 50 anos do ingresso na Escola
Preparatória de Fortaleza.
Isto é apenas
o lado básico
da nossa iniciação. ACADEMIA
MILITAR DAS AGULHAS
NEGRAS Cheguei na AMAN em fevereiro de 1959. Fiz o curso normal
da AMAN em quatro
anos. E sai Aspirante
a Oficial de Intendência
na Turma Duque
de Caxias, com
a declaração de Aspirantes
a Oficial em
20 de dezembro de 1962. Sobre a saga do
Cadete na AMAN, escrevi o livro Minha vida de Cadete,
ainda no prelo
por falta
de patrocínio. Em
2002, comemoramos os 40 anos do Aspirantado. Surgiu pela cabeça iluminada do colega
Danillo Orrico, que nos
anos seguintes, houvesse reuniões subseqüentes.
Depois deste ano, passamos a nos encontrar
em Reuniões
cada vez
melhor organizadas: 2003, em Fortaleza; 2004 em Curitiba; 2005 em Salvador; neste ano de 2006, será em
Florianópolis. Aqui,
um voto
de louvor para
a minha família:
minha mulher
Thelma, dinâmica, inteligente,
com artes
nas mãos: fazia criações
em roupas
para crianças,
meninos e meninas de um a sete anos. Uma modista
de mão cheia
e vasta clientela. Cuidava da casa com
maestria e arte: decoração, jardinagem, arrumação de seu
mobiliário, passando pelos sucessivos
quartos de nossos
dois filhos
Cláudio Henrique e Carlos Eduardo. A casa sempre foi
muito bem cuidada. Nossa casa no Cumbuco foi planejada muito
antes de chegarmos de volta ao Ceará: em
Recife e Olinda e nas viagens que
fizemos a Caruaru e outros interiores, ela
respirava e antevia o Cumbuco decorado. A casa
era um
primor. A moradora comia brasa para manter
a grama verde, a casa varrida, os móveis
limpos. Em
23 de outubro de 1964, em Manaus, nascia o primeiro
filho Cláudio Henrique. Acompanhou-nos em todas as viagens
que fizemos, exceto
à Argentina em 1978. Mas, de volta a Manaus, pelo Rosa
da Fonseca no trecho Fortaleza
– Belém e de avião, Belém – Manaus. Tudo em 1968. Em
18 de julho de 1969, nasceu em Fortaleza, nosso segundo filho Carlos Eduardo. Nesta época,
eu estava me
bacharelando em
Ciências Econômicas pela
UFC. Continuamos as nossas viagens pelo Brasil. Fomos ao Rio de Janeiro,
em 1974, de carro,
com escalas
em Salvador, Porto Seguro (uma aula de Brasilidade),
Vitória, Petrópolis e Rio.
Novamente ao Rio,
em 1975 para cursar a Escola de Aperfeiçoamento com direito
a uma esticada a Brasília, nas pequeninas férias de meio de ano. Na
ida, escala
apenas em
Belo Horizonte
para conhecer a culinária mineira. Na volta, pernoite em
BH com direito
a conhecer a Gruta
de Maquiné e as cidades onde o Aleijadinho mais
produziu: Ouro Preto,
Congonhas do Campo
e São João Del Rei. Em
1980, voltamos definitivamente para Fortaleza, ocupando a nossa casa
à Rua Júlio Siqueira, 963 – Dionísio Torres. Este imóvel eu
adquiri quando recém promovido a Capitão, em 25 de agosto de 1970, e daqui não pretendo sair mais. Meus
filhos passaram pela
UNIFOR – Universidade de Fortaleza. O primeiro é executivo na área
de vendas. O segundo
tem uma capotaria onde instala bancos de couro em veículos novos e seminovos. O Cláudio Henrique namorou, noivou e casou com a Larissa, e desse casamento notável
nasceu nossa querida
neta Camila, hoje
com quatro
anos. O Carlos Eduardo namora firme a acadêmica de Enfermagem
Ena Gomes, residente em Sobral. E a vida
continua. Obrigado
ao meu bom
Deus pelas graças
alcançadas no passado, no presente
e pelo futuro
que nos
aguarda.
Fortaleza, 25 de setembro
de 2006.
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