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Joaquim de Brito Sampaio


 

 
   

( Hiram Câmara Cad 330 CInf AMAN 62)

 

Do Tema Livre à Missão Cumprida

Éramos alunos do Colégio Militar e nosso querido "baixinho" Sampaio, então, aos quatorze, quinze anos - um pouquinho mais baixo - às vésperas de uma prova de português, tomou conhecimento, na sala de aula, pelo professor, de que a redação, valendo metade da prova, seria um tema livre.

Ledo engano pensar que isto fosse uma benesse, o que pensávamos, todos, assim ser. Na realidade, o tema livre exige um tempo para pensar naqueles que vão surgir na cabeça, um tempo para escolher, entre eles, um que lhe pareça mais fácil, e finalmente, um tempo para se arrepender do tema escolhido e assumir, no rascunho, um outro tema, que nunca será o melhor. Quando o tema é imposto, é aquele, único, indiscutível, e seja lá o que Deus quiser.

Mas todos sabemos que havia, pelo menos, uma forma de tentar driblar essas dificuldades. E o "Baixinho" partiu para ela, sem perda de tempo: decorar um texto. E, então, como estava estudando para outras provas com afinco, e a redação valia metade da prova de Português, e ele precisava de 4, escreveu um texto lindo, que aliás tive a oportunidade de ouvir de cor, no dia seguinte, de manhã, antes da prova, ele querendo saber a opinião, e era um um texto para tirar, pelo menos, 9; levara uma hora procurando torná-lo imbatível. Depois de completá-la e decorar suas escassas mas objetivas 20 linhas, voltou a estudar outra matéria. A redação era sobre uma menina que ele vira na praia. Bem, da estória, esqueci-me. O que não deu para esquecer foi quando abrimos a prova no dia seguinte e lemos:

Tema da redação : "Um Tema Livre".

Não era o tema que era livre. O tema era imposto.

Teríamos de escrever sobre a instituição redacional denominada "Um Tema Livre".

Certamente, deveríamos explicar o que era tema livre e escrever sobre o que pensávamos sobre isto.

E lá se foi a menina da praia, o tempo da decoreba, e rapidamente, deve ter-lhe vindo a imagem da banca de oral.

Voltarei ao "tema", mais abaixo.

É que, agora, é oportuno lembrar outro momento: estávamos, agora em Santo Domingo, 1965, ele, competentíssimo Oficial de Comunicações no Batalhão Brasileiro da Força Interamericana de Paz, e eu Oficial de Ligação.

Certa feita, no PC do Batalhão, tínhamos acabado de nos divertir, e ali estava o "Baixinho", relembrando causos do CMRJ e da Preparatória, na noite relativamente calma na frente, quando, pelo rádio do PC, um dos comandantes de companhia informou que a comunicação fio estava muda.

Sampaio e todos nós bem sabíamos o que representava isto: pelas dez da noite, franco-atiradores, blackout, uma viatura de comunicações isolada, estendendo fio nas "barbas" dos rebeldes de Ciudad Nueva. Mais uma missão para o "Baixinho": em uma semana, a terceira.

Com a agilidade com que competia 100 metros, partiu.

Missão cumprida, voltou. 3 da manhã, eu de permanência, ele entrando pelo PC..

Com o perdão de todos, vou repetir razoavelmente, o que entrou dizendo, os olhinhos vivos, atrás de seus oclinhos redondos:

"PQP! Eles estão se aperfeiçoando em sacanagem! Mantiveram os fios e interromperam a comunicação de 50 em 50 metros. Acho que os sacanas ficam dando gargalhada vendo a gente fazer a manutenção da rede! Mas se ferraram! Quando eu percebi, abandonei a fiação danificada, e corri outra paralela, e meia-hora depois todos estavam falando na rede" .

"E por que chegou tão tarde, aconteceu alguma coisa na volta?"

"Não", respondeu, enquanto tomava o último cafezinho da garrafa, e talvez, frio: "Voltamos depois da comunicação estar recuperada, e verificamos que eles haviam ido até a metade. Então recolhemos a fiação que estava inteira. A gente recupera no Pelotão".

Esse era o "Baixinho" , e o fato me permite, agora, voltar ao salão de prova, com o "tema livre".

Eu sabia que o "Baixinho" deveria ter levado um susto com o tema "Um tema livre".

Pois bem: como no futuro realizaria com a ligação direta, com sua inteligência elétrica, e sua emoção sanguínea, verdadeiro e sério, e com a coragem de quem volta para recolher a parte utilizável da fiação, nas "barbas" de franco-atiradores, não perdeu tempo: desandou a escrever - sem temer os tiros do professor - sobre o fato de ele ter "gozado" a turma. Discordando do mestre, é óbvio. Ao sair, eu estava curioso para saber como se saira com o "tema livre". Ele respondeu: "Escrevi o que pensava. Tá na cara que estou na oral". Creio que hoje, com a experiência de vida que temos, ninguém se surpreenderá com o grau 9 que o "Baixinho" tirou, ficando longe da oral. Ele colocara no papel o que pensava, sua emoção. Certamente com a elegância possível e necessária. Tornara seu texto imbatível. Esse era o nosso "Baixinho" Sampaio.

São passagens em que assisti esse grande infante, amigo, companheiro demonstrar um pouco de sua dimensão como jovem e como soldado. Um orgulho Tuducax.

Entre um e outro fato, mas já servindo no grande REI, o Aspirante Sampaio viveria outra situação que marcaria para todos os que lá serviam, no alvorecer da carreira, outra confirmação de seu caráter limpo, firme e puro. Uma das razões de ser tão querido entre os que o conheceram.

Mas esta, muita gente conhece, aconteceu entre o Auxiliar do Oficial de Dia e o famoso coronel comandante da unidade, em função de uma daquelas pesadas campainhas de mesa, e outros, de pena mais ágil e fina, poderão contar. Alguém, de preferência, que tenha servido no REI "de nosso tempo", em 1963.

 

Hiram

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