Boneca era CALUNGA
A revista era FON-FON",
Calcinha era SUNGA
E soutien,
CALIFON
Da circunspecta
CEROULA
Da rapadura com feijão,
Da paçoca comcebola
E do sunga de cordão.
Tempos bons.
Dos velhos bondes da "light",
Da goiabada cascão,
Em que o ditado era "ALL-RIGHT"
Da anágua e da combinação.
Da velha praia
de Iracema,
Das "soirés" do
São Luís
Do canto da
seriema
E das bolinhas
de aniz.
Do gostoso doce gelado
De abacaxi, cajá
e nata.
Do amendoim bem
torrado
E do fino doce de lata.
Tempos
bons em que...
O chic era usar gravata
Sapato de bom verniz,
O relógio era de prata
E o homem era feliz.
O pó de arroz era "DORLY",
Cafona era
canelau.
A revista era o
"GIBI"
E ladrão era
LALAU...
Do velho abrigo
central,
Dos pastéis do "MARECHAL",
Da Praça da Escola Normal,
Do Ginásio Municipal.
Da Igreja de São Benedito
Do Pastoril da Imperador,
Onde se cantava
"BENDITO"...
Do Narcélio e do Bianor
!
Do saudoso "MAJESTIC",
Cine Centro,
cine Rex.
Do Moderno, um
cine chic,
Do tropical "SUPER-PITEX.
Tempos saudosos
aqueles em que...
Empregada era
"PIRÃO FRIO",
Resfriado era
defluxo,
Só se viajava de
navio.
Pro pulmão era
mastruço.
Tempos bons .
Das retretas da
"Lagoinha",
Onde havia uma distinção:
No centro, as moças de linha,
Por fora, as "chofer de fogão".
Do pegapinto do Mundico,
Com pão doce ou
tapioca
Do caldo de Cana
caiana
Moída ali na
engenhoca.
Tempos bons...
Em que não havia
assalto,
Violência ou trombadinha,
E o único sobressalto
Era o ladrão de galinha.
Do penico de porcelana,
Da escarradeira
na sala,
Em que cílio era
pestana
E o guarda-roupa
era a mala
Do jaquetão tipo
saco,
Da calça boca de
sino
Colarinho
indeformável,
Sapato salto argentino.
Tempos bons
aqueles...
Da cabeleira bem
penteada
Oleada para
brilhar,
Com óleo
Glostora e perfumada
Com brilhantina
"Royal Briar"
Em que...
Papo furado era
lero-lero,
A gente brincava de pião,
A dança da moda era bolero
E não existia "sapatão"...
Moça fina usava pastinha,
Sáia godê, blusa
rendada
E, quando caía a
noitinha,
Se sentava na calçada.
Tempos saudosos
em que...
Bromil era
expectorante,
Asseptol, uma
panacéia.
Capivarol,
fortificante,
Chá de goma pra
diarréia...
Tempos saudosos
aqueles...
Do galo cantando
no quintal
Em que se jogava bola de meia.
Das frutas do Mercado Central
E em que surra era peia...
Da velha Farmácia Teodorico
Do "papagaio"
sineiro da SÉ.
Em que fofoca
era fuxico
E charrete cabriolé.
Do terno de
linho acetinado
Da Irlanda ou Inglaterra importado
Sempre impecavelmente engomado,
Botão do colarinho dourado.
Do sapato esporte "fanabor",
Da roupa do
melhor rayon,
Do gostoso café
de coador
E do sapato
branco e marron.
Da esquina do
pecado famosa,
Onde a rapaziada, às tardinhas,
Ficava pra ver o vento subir
A saia rodada das menininhas...
Recordação e muitas saudades
Do sortido
"Bazar Alemão",
Da antiga "Loja
de Variedades",
Da "Espingarda" do
Damião.
Da Loja "O
Gabriel", sortida,
Que vendia artigos sagrados,
Com a porta garantida
Por vinte e dois cadeados...
Da famosa "Casa Elefante",
Que vendia tudo barato,
Ao pobre ou ao
mais pedante,
Penico, xícara
ou prato.
"Casa Sloper,
"Ceará Chic",
casa das jóias "Meziano",
do elegante carro "Buick",
do fino chocolate Gardano.
Do embarque na ponte metálica,
Aos vagalhões do
mar azul,
Nos velhos
navios da "Costeira",
Única via de
acesso ao sul.
Tempos bons em
que...
Murro chamava-se
bofete,
O homem de posses ia a Roma
E, em vez do nocivo chiclete,
Mascava-se bombom de goma.
Tomava-se água de quartinha,
Merendava-se um
bom chibé,
Na sobremesa,
rapadurinha
E, pras visitas,
era café.
Saudades...
Do rádio Philco
muito afamado
Potente e todo valvulado,
Modelo moderno quadrado,
Com o dial todo iluminado.
Da famosa "Cama Patente",
Da legítima
"Faixa Azul",
Que era luxo pra
pouca gente,
Importada lá do
sul...
Da coluna da
hora imponente,
Testemunha de emoção do povo,
Com seu badalar estridente,
Anunciando a entrada do Ano Novo.
Do conhecido "Posto Mazine",
Da esquina do "Rotisserie",
Das finas calças
de gabardine
E dos frondosos
pés de oiti.
Da famosa
bolacha "fogosa",
Do fino biscoito "Facão",
Em que a praia chic era a "Formosa"
E sáia rodada era balão...
Da "A Cearense" do Aprígio,
Loja Chic, em
grande progresso,
Ditando a moda,
com prestígio,
Ali, no
Quarteirão Sucesso".
Do magazine "A
Cruzeiro",
Líder de roupa masculina,
Que , durante o ano inteiro,
Ditava a moda mais grã-fina.
Do criado mudo em casa de rico,
Guardando, nas
horas diurnas,
O sempre asseado
penico,
Pras
necessidades noturnas.
Da tabuada na palmatória,
Método reputado
imperfeito
Crestomatia na
compulsória
Mas, aprendia-se
e havia respeito.
Lembranças dos
tipos pitorescos...
A Teresa do
"puxa-puxa",
Zé Tatá, Siri, Raimundão,
Casaca Preta, Bode Iôiô,
Jararaca, Chica Pilão.
Feijão Sem Banha, Chico Dudu,
Zé Guela, Chico
da Mãe Isa,
O "Mamãe Dorme
Só, o Napu,
O "Pedão da
Bananada".
Na Fortaleza
antiga...
Rádio Patrulha
era "Madalena",
Avião era aeroplano,
Pobre só tinha rádio a galena,
E moça tocava piano.
Aparecia o "Cão da Itaoca",
Assombrando a
população,
Tomava-se café
com tapioca,
Como primeira
refeição.
Saudades...
Da Rua Franco
Rabelo,
Do velho "curral" da praia,
Do Matadouro Modelo,
Das brincadeiras de arraia...
Dos "Prefect" do "Posto Cinco",
Dos automóveis "Citroen",
Dos prédios de
teto de zinco
E dos cigarros Araken.
Piqueniques em
Messejana
Cada qual levando farnel,
Frito de galinha, banana,
Farofa de carne e pastel.
Do beco do "rasga sunga",
Escuro que nem
breu!
Onde se ouvia um
funga-funga,
Ali, pertinho do Liceu.
Dos programas de
rádio gostosos
"Divertimentos em Seqüência",
Novelas, cantores famosos,
"Bazar de Músicas"... Que audiência"
Do animado carnaval de rua,
Com muito
confete e serpentinas,
Maracatus,
"Bando da Lua",
O corso com muitas
meninas.
Do cloretil,
muito perfumado,
Infalível no "flirt" inocente,
Com seu jato muito gelado,
Deixando um odor envolvente...
Das retretas do Passeio Público,
Desfiles na
praia ao luar,
"Sereno" no Cine
Diogo,
Banhos na ponta
do quebramar...
Tempos bons
aqueles em que .
Morim era
mandapulão,
Cachaça, "cascorobil",
Toda casa tinha oitão,
Pra lombriga, "Ferrovermil".
Presepada era marmota,
Confusão,
inguirisia,
Em que mentira
era lorota,
E perder missa
era heresia.
Sabonete fino
era de sândalo,
Pra dar sorte, pé de coelho,
E considerado grande escândalo
Moça mostrar o joelho.
Casamento era coisa séria,
Não havia
separação,
Em que Quitéria
era Quitéria,
Em que João era
João...
Em que não havia
fila,
Muito menos
inflação,
Bola de gude era
bila
E bermuda era
calção.
Saudades...
Do carrossel,
que era óla,
Da gostosa mariola,
Do sapato de crepe sola,
E da música de vitrola.
Do namoro na janela,
Singelo e sem
nenhum sarro,
Sob as vistas da
mãe dela,
Que, foi não
foi, dava um pigarro...
Das serenatas românticas,
Músicas apaixonadas,
Violões e bandolins,
Nas noites enluaradas.
Do feijão com carne velha,
Cozido em panela
de barro,
Do refresco de
groselha,
Servido na mesa
em jarro.
Do paletó de
casimira,
Calça de fina flanela,
Camisa de seda palha,
Botão de rosa na lapela.
Da cambica de murici,
Do mocororó de
caju,
Do aluá de
abacaxi,
Das bolinhas de
comaru.
Da Ladeira da
Prainha,
Do velho Poço da
Draga ,
Da Rua do
Seminário,
Do Monsenhor
Tabosa Braga.
Eu sou do tempo em que...
Rede se chamava
fianga,
Havia fartura de manga,
Todo jardim tinha pitanga,
Usava-se ouro e não miçanga...
Da Cera do Doutor Lustosa,
Do Chá de Sena
com maná,
Pílula de Matos
famosa,
Do Lambedor de
Jatobá...
Do Elixir de Inhame,
Do chá de folha de mamão,
Do depurador de velame,
Do gargarejo de agrião.
Do pote no pé da janela,
Da tina dágua no
banheiro,
Do arroz doce
com canela,
E da caneta de
tinteiro.
Da braguilha de botão,
Calça de seis bolsos e bainha,
Suspensório e cinturão.
Da tinta de escrever "Sardinha".
Em que era uma tradição,
Cultivada por
inteiro,
Na primeira
comunhão,
Usar roupa de
marinheiro.
Da rua da Conceição,
Outeiro, Praça de Pelotas,
Prado, Campo de Aviação,
Beco dos Pocinhos, Varjota.
Soares Moreno, Praínha,
Praça da Sé,
Hotel Bitu,
Pajeú, Rua da
Escadinha,
Alagadiço,
Guajiru.
Em que era obra
do Satanás,
O homem sério e
de linha,
Usar paletó
lascado atrás,
Capanga, brinco e
pulseirinha.
Eu sinto saudades do tempo em que...
Havia muito mais recato,
Mais sinceridade
e pudor,
Muito mais
respeito no trato.
Mais fidelidade
no amor.
Saudades
imensas...
Da nossa
Fortaleza Antiga,
Sem asfalto e
poluição,
Muito mais
humana e amiga
E com muito mais
coração"
Tudo isso, "Coisas Que
O Tempo Levou",
como diria o saudoso José Lima Verde,
um dos maiores cultores da memória da nossa querida cidade.